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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Meu dinheiro seja louvado


A discussão sobre retirar a frase "Deus seja louvado" das notas de dinheiro evidencia outro problema da política, além do Estado Laico está presente somente no papel, que é a separação entre público e privado. Nunca foi clara essa distinção na história do Brasil, os casos de corrupção estão aí até hoje para demonstrar isso. A afirmação do Senador José Sarney de que o Ministério Público não tem o que fazer para se preocupar com isso e jornalistas afirmando que trata-se de uma perseguição ao cristianismo são descabidas e simplesmente não poderiam estar mais longe da verdade.



A política brasileira ainda é movida pelos interesses privados dos políticos. Lançar as bases de que as esferas pública e privada do poder não devem ser misturadas não é de maneira nenhuma perda de tempo. Todos os cidadãos brasileiros, como pessoas livres que são, têm o direito de ter a visão religiosa que desejar, bem como não ter nenhuma se assim quiser, mas isso faz parte das suas vidas privadas, suas escolhas individuais que podem divergir de uma pessoa para outra. Retirar a menção a 'Deus' das notas não é de maneira nenhuma uma perseguição religiosa. Por sinal, historicamente tais práticas foram perpetradas por organizações religiosas. Mas isso não é o que está ocorrendo aqui. Está apenas retirando da vida pública o que não pertence a ela. A vida privada livre de cada indivíduo continuará a mesma.




A sentença impressa nas notas do Real não aumenta nem diminui a sua função, tornando-a, para todos os sentidos dos propósitos de um governo funcional, desnecessária. Dizem que o Estado Laico não significa um Estado Ateu e estão absolutamente certos nessa parte, não significa mesmo não. Retirar a palavra 'Deus' das cédulas não é uma afirmação que Deus não existe. Está apenas afirmando que o Estado, laico como é, não deve emitir nenhuma opinião sobre o assunto. Por que? Porque não é sua função entrar no mérito da questão. É para as pessoas em sua vida privada livremente chegaram às suas próprias conclusões.

Eu entendo que não é possível fechar completamente os olhos à religião. Ela existe e afeta a vida das pessoas e influencia suas opiniões. Mas é evidente que em se tratando da vida pública, na qual estão envolvidas outras pessoas com visões religiosas diferentes, esses argumentos de origem religiosa devem ser colocados de maneira a sere relevantes a todos. Alguns argumentam que a palavra 'Deus' é universal e que por isso o Estado não está promovendo nenhuma religião específica. Um argumento parecido com o que os vereadores de pelo menos duas cidade usaram para tentar inserir a oração do Pai-Nosso nas escolas municipais das suas cidade (vide: Pai nosso que estais no céu, aí deves ficar). Tirando o fato  que em um país de tradição católica no qual está exposto nas repartições públicas crucifixos é óbvio o deus implícito, a menção a uma pseudo-universal divindade já é um reconhecimento de que necessariamente alguma existe. E eu reitero, o Estado não deveria emitir uma opinião sobre esse assunto, para preservar sua independência de qualquer vínculo religioso.

Eu disse que a palavra 'Deus' não aumenta nem diminui a função do governo, ela é absolutamente desnecessária, mas esta pode transmitir a imagem errada do nosso país. No contexto internacional, as nações teocráticas, principalmente as islâmicas, misturam Estado e religião como uma coisa só. E eles veem o Ocidente como cristão e ter um presidente dos Estados Unidos da América dizendo frases como "Jesus me disse para invadir o Iraque" não ajuda a mudar essa imagem. É por isso que eles entendem que um vídeo feito por algum cidadão expressa a opinião do Estado sobre o tema, o religioso e o público para eles são indistintos. Quando se está exercendo um cargo público, separá-lo das suas convicções pessoais que em nada auxiliam no cumprimento do seu dever é mandatório. É preciso passar a imagem que somos uma nação livre, não levamos em consideração sua religião para negociar e conviver com você e não te perseguimos por ela. Não somos uma nação cristã, ou judaica, ou islâmica, ou budista, ou ateia, somos uma nação multireligiosa, que aceita todas as opiniões, até mesmo a opinião de que Deus não existe, sem esfregar na sua cara constantemente que você está errado.

Disseram que era uma tradição colocar a frase nas cédulas de dinheiro, por isso ela foi inserida na nota do Real em 1994. Agora basta a prática ter menos de dez anos para se constituir uma tradição? Tradição era colocar a imagem de pessoas notáveis da história brasileira nas notas. Lembram da época que colocávamos Marechal Deodoro da Fonseca, Santos Dumont e outros nas notas? Essa é uma verdadeira tradição que valeria a pena ser seguida.






Fortalecer a barreira que separa o público do privado não é de maneira nenhuma perda de tempo. Corrupção vai além de confundir patrimônios público e privados, também envolve confundir suas concepções particulares com sua função pública. Se não distinguirmos bem essas esferas, o Senado Federal, principal representação de qualquer República, transformar-se-a na nova aquisição da Igreja Universal.


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Um comentário:

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