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terça-feira, 31 de julho de 2012

A guerra que já foi longe demais – Parte 2


O post de hoje é uma continuação do post de ontem que começou com a intenção de falar sobre a guerra ao tráfico e os problemas que causam, mas eu acabei falando somente da macaconha. Isso que dá fazer posts drogado. Só estou brincando, não fiz o post drogado, eu não uso drogas, só facebook às vezes. Bem, o combate ao tráfico de entorpecentes como é feito atualmnte é muito custoso e não só em termos de dinheiro mas também em termos de vidas.

É comum hoje as pessoas dizerem frases como “Bandido bom é bandido morto”, aplaudirem quando aparece na televisão que policiais mataram não sei quantos bandidos, esbravejar indignadas quando um criminoso vai a julgamento que nosso sistema judicial é lento e só serve para colocar bandido na rua. É completamente compreensível porque fazem isso, afinal ninguém quer ser assaltado no caminho para o trabalho nem ter o filho ou amigo vítima da violência de um bandido. Além disso, é compreensível também porque o policial faz, afinal bandido não vai simplesmente sair com as mãos para cima e se render e durante a troca de tiros tanto bandidos quanto policias acabam feridos ou mortos. Agora, temos que parar de enaltecer essas tragédias como algo bom, bandido ou não, alguém morto não é algo para se festejar, muito menos desejar.

O nosso sistema judicial, o direito de ampla defesa, de um julgamento justo, não é uma panacéia para colocar bandido na rua. Ter vigilantes armados guardando as ruas, atirando antes de perguntar, subindo morros para executar vingança não é um sistema de justiça. Se preferirmos isso, então podemos queimar nossa Constituição, trocar o nome do Tribunal de Justiça para Tribunal de Vingança. “Olho por olho, dente por dente”, ou o novo matou merece morrer, não é justiça em nenhuma sociedade civilizada.


Na realidade a tarefa de perdoá-los cabe a um júri de seus semelhantes.



Como eu disse eu entendo porque a sociedade de certa forma acha esses eventos aceitáveis, o medo. Mas se o medo nos faz cego ele deixa de ser útil e passa a ser prejudicial. Em 1964 o medo de um golpe comunista no nosso país fez a sociedade aceitar os militares no poder, trocamos nossa liberdade por segurança e foi algo bom? Não se troca diretos fundamentais como vida e liberdade por segurança, não os troca por nada porque não há nada mais valioso. Se você ainda estiver pensando, mas são apenas bandidos eles não deviam ter tantos direitos quanto eu. Se um direito fundamental é negado a uma pessoa ele é negado a todos, assim que se abre uma excessão perde-se o controle, não há como prever quem será a próxima vítima de intolerância.

Como podemos esperar construir uma sociedade melhor se enaltecemos a prática dos mesmos crimes que estamos punindo contra os criminosos? Você realmente quer paz e segurança construídos em cima de assassinatos e torturas? Não estamos melhorando ao decaírmos ao nível dos bandidos, estamos nos tornando justamente o que odiamos. Eu sei que é difícil ver cenas como um menino sendo arrastado pelas ruas amarrado nas rodas de um carro e não desejar a morte do criminoso, mas lembre-se, ele é o criminoso e não nós, não devemos nos tornar pior do que ele só para puní-lo. 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A guerra que já foi longe demais


Quando vemos as operações policiais contra os traficantes, principalmente nas favelas do Rio de Janeiro, inflama na sociedade o sentimento de que criminosos devem ser punidos – isso na maioria das vezes significa que devam ser mortos – e, principalmente, que essas operações trarão segurança para a cidade. Mas, quais os reais resultados dessa guerra de décadas contra as drogas ilícitas e mais qual o verdadeiro efeito que o uso delas causa no organismo humano?

Essas perguntas têm sido muito mal respondidas e a maioria das pessoas desconhece os verdadeiros efeitos e perigos que as drogas causam. Os seres humanos sempre usaram algum tipo de psicodélicos na vida, não existe uma única pessoa que nunca usou uma droga na vida. A droga exerceu, e ainda exerce, um papel fundamental na sociedade humana, principalmente em rituais religiosos, para entretenimento e por questões de saúde. Já imaginou um casamento sem álcool, um sacerdote indígena tendo revelações sem usar uma droga psicodélica ou alguém com dor sem usar um analgésico? Contudo, existem drogas que são condenadas pela opinião pública, dizem que viciam e podem colocar o usuário e as pessoas próximas em risco. Quanto dessa informação é realmente verdadeira? Em que estudos científicos elas se baseam?




O maior vilão atual, tirando o cigarro que apesar de ser legalizado seus usuários sofrem duras restrições ao seu uso, é a maconha. Até recentemente, usuários de drogas eram tratados como criminosos e estavam sujeitos a punições legais. Na formulação do novo Código Penal, assim como nas recentes decisões dos tribunais, usuários não serão mais criminalizados. O que é preciso enteder é que a guerra ao tráfico, como vem sendo abordada, mostrou-se ineficaz. Conquistas de morros por policiais e militares são mostradas como grande vitória, mas não fizeram a criminalidade diminuir, só a fez aumentar em outros locais. Caçar criminosos como animais não é a solução e muito menos é tratar usuários como criminosos. Países como Suécia há alguns anos passaram a tratar usuários como casos de saúde pública e, ao invés de prendê-los, disponibilizam locais devidamente higienizados para consumo de drogas com menos riscos à saúde. O que no Brasil seria visto como uma política para ajudar vagabundos. Na Holanda o consumo da maconha foi permitido e nem por isso o país se degenerou para um antro de drogados.


Vítimas da guerra ao tráfico. Tem que haver uma maneira melhor do que essa.


Você pode perguntar: mas usar drogas não faz mal para a saúde? Por que deveria ser permitido algo que faz mal para você? Como eu já disse no início do texto, não existe uma única pessoa que não usou droga na vida. Você acha que a aspirina que você ingere para curar aquela dor de cabeça do estresse diário é menos nociva do que a cocaína? Bem, pense de novo, porque o princípio ativo de que é feita a aspirina é justamente a cocaína. Como qualquer médico irá te dizer, todo medicamento, se usado em dosagens inadequadas a você, pode ser fatal. A mesma coisa vale para as drogas psicoativas. Portanto, a questão não é ter medo do seu efeito e repudiá-las totalmente, o ponto é aprender a conviver com elas e com seus usuários. Estudos mostram que a maconha é, comparativamente, menos prejudicial do que o tabaco e o álcool, e que, se corretamente usada, uma pessoa adulta dificilmente sofrerá algum efeito colateral. Mas é lógico que ninguém ouve falar desses estudos, porque os cientistas que os fazem são rigidamente sensurados pela comunidade científica e pelos governos.

Os efeitos medicinais da maconha já são conhecidos, tanto é que em alguns locais ela já vem sendo empregada para reduzir os efeitos da quimioterapia durante o tratamento de câncer. Porém, sua utilidade transcede o uso medicinal, e também o recreativo. A maconha pode ser usada na produção de cremes e loções – importantes na indústria de cosméticos, bio-plástico pode ser feito a partir dessa plantas também. Feiras dedicadas a esse assunto, e a mostrar as novas possibilidades do uso da planta, são realizadas em vários países na Europa.

Refrigerantes a base da maconha



Hidratante a base de maconha.


O que é preciso são verdareiras camapnhas de conscientização da população sobre os reais efeitos das drogas. Algumas continuam ilegais porque as pessoas não são devidamente informadas sobre elas e recebem informações erradas e manipuladas. A guerra ao tráfico como ação policial fracassou, é um custo excessivo, não só de dinheiro, mas de vidas também. 


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Se você quiser saber mais recomendo esse documentário, dividido em 6 partes.



domingo, 29 de julho de 2012

"Estou me lixando para a opinião pública"


Não sei se todos vocês lembram, porque a memória do brasileiro é muito curta mesmo, mas em 2009 o então deputado federal Sérgio Moraes soltou essa afirmação ao ser questionado por reportes: estou me lixando para a opinião pública. E claro grandes fontes sempre defensoras da "opinião pública" - como a Rede Bobo, a Não Veja e outras - caíram em cima desse comentário como um ultraje, um insulto ao eleitor. Vamos ver o que realmente é essa "opinião pública" ou também chamado de "povo" e com isso tentar entender o que aconteceu com o sonho de democracia.





Durante muito tempo da história humana a grande maioria da população, vamos aqui chamá-la de "povo", foi liderada pela minoria, que se dizia nesse direito por nascimento, vontade divina ou ambos. Deixando de lado a aclamação emocional de que foi um período de repressão, no qual déspotas regiam autoritariamente reprimindo o povo, imagem esta criada com as revoluções burguesas, porque assim como os humanistas do Renascimento passaram a ideia de que o período medieval foi uma Era das Trevas, os revolucionários iluministas passaram a ideia de que o período do realismo foi uma era maligna. Tal sistema, aristocracia, na sua definição clássica "governo dos virtuosos", foi defendida por vários filósofos expoentes como Aristoteles, Platão e Maquiavel em sua obra O Príncipe definindo os homens de virtú.

E antes que as pedras comecem a ser atiradas sobre mim eu não estou aqui defendendo o antigo regime com sua rígida estrutura social definida pelo nascimento, mas vamos pensar o que acontece hoje, no mundo do "politicamente correto". Se uma pessoa nasce em uma família mais rica ele terá sim uma vantagem sobre aquela que nasceu em uma família menos favorecida, receberá melhor educação, passará menos adversidades. O mundo de hoje, pós revoluções populares, condena esse tipo de pessoa, como se fosse um crime e uma ofensa nascer rico. É já um senso comum que todos são igualmente capazes, mas vamos derrubar essa máscara porque não, elas não são. Fora todas as características geneticamente determinadas que nos diferenciam bastante uns dos outros, as condições sob as quais você nasceu e vive restringem o que você é capaz de conquistar. Eu sei, é injusto, o mundo é injusto, a zebra mais lenta vira comida do leão, acostume-se com isso.

Os séculos XVIII e XIX foram marcados pela insurreição das revoluções para acabar com os resquícios da antiga ordem social. Tomemos o maior exemplo desse período, a Revolução Francesa. Nessa revolução "o povo" percebeu, finalmente, que eles estavam em maior número e que podiam sair às ruas e quebrar as coisas se não estivessem satisfeitos com seu governo. A burguesia percebeu outra coisa, que tinha uma grande arma ali, se pudesse controlar aquela numerosa massa eles poderiam fazer o que quisesse. E aquela enorme massa estava ansiosa por alguém para controlá-la, porque afinal, além de quebrar as coisas, eles não tinham a mínima ideia do que fazer depois. A burguesia tinha um plano, fazer uma constituição, controlar as classes mais altas, conquistar seus interesses e jogar as sobras para o povo para deixá-los felizes. Isso pode resumir todas as revoluções, como disse George Orwell no livro 1984, a sociedade dividida em três classes, a classe média anseia por mais poder, une-se com a classe mais baixa, derruba a classe alta e todos ficam felizes, até que naturalmente as classes começam a se diferenciar novamente e o ciclo recomeça.

Só pense nos movimentos aqui no Brasil mesmo, os grandes nessas últimas décadas, Diretas Já e impeachment de Collor. O país passou 21 anos sob governo ditatorial, houve resistência sim, mas a reunião de milhões de pessoas sob um mesmo interesse foi levada até lá, guiada, controlada; como também foram os caras pintada, sim, depois de anos sem eleições nosso primeiro presidente "democraticamente" eleito é tirado do cargo. Viva a democracia!

Hoje a democracia se tornou uma ditadura da maioria, não importa mais se sua ideia é certa ou não, basta você ter a maioria do seu lado que ela se torna certa. Isso deriva do falso senso comum de que 99% das pessoas não pode estar errado. De fato eles podem estar errado, como muito comumente estão. Os pais fundadores da América nunca intencionaram entregar o governo ao "povo" ao estabelecerem o modelo de democracia, posteriormente instalado em outros países como o Brasil. É um sistema de democracia representativa, o chamado povo não está completamente inteirado sobre a burocracia do governo para eles serem escravos dele em suas decisões. Essa foi até uma fala do ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Brito, durante a sessão de decisão se o sistema de cotas é inconstitucional; eles estudaram para exercer aquela função, trabalham com aquilo todos os dias, não devem ser escravos da opinião pública só porque a maioria acha que devia ser assim. E além disso, que opinião pública é essa que devia ser ouvida? Os extremistas conservadores de direita, usando como exemplos o Tea Party nos EUA - com seus membros agindo como deficientes mentais vestidos de George Washington - e a base ruralista e evangélica do congresso brasileiro, ou os de esquerda, como aqueles do movimento de Acampar em frente Wall Street? Na verdade nenhuma. A opinião pública que deve ser ouvida, na concepição atual, é a daquelas pesquisas que aparecem na TV, editadas e manipuladas.

Então da próxima vez que for aplaudir junto com a multidão pense bastante sobre o que eles estão aplaudindo, tenha opinião própria. Ao invés de passar 3 anos e 364 dias reclamando que políticos não ligam para você, só roubam e desviam verbas, pense naquele único dia, no qual você diz "vou apertar qualquer número aqui, afinal político é tudo igual". 

sábado, 7 de julho de 2012

Admirável Mundo Novo


Mais um sábado e mais uma vez um post mais relaxado, vamos analisar a decadência evidente do nosso mundo com algumas notícias dessa semana. Hoje poucos ainda têm idealismo, defendem valores universais ou não estão hipnotizados pela mídia sensacionalista. Esse é nosso Admirável Mundo Novo.







Mãe do ator Brad Pitt critica o presidente Obama por ele ser a favor do casamento gay. Agora a opinião da mãe de Brad Pitt, a manchete nem cita o nome dela no título, é de extrema relevância política, afinal ela é conhecida pelo seu notório saber jurídico e não por ser a mãe de um ator. Em textos anteriores eu mostrei como os religiosos tentam impor seus senso de moralidade sobre as outras pessoas; eu sei que é difícil entender, mas não existe somente cristãos no mundo, nem mesmo um país de só cristãos. Existem outras pessoas com pensamentos diferentes dos seus que também merecem ter direitos, a constituição diz "todos são iguais perante a lei", não distingue cor, opção sexual ou religião e, como eu já disse, a constituição está acima da sua bíblia.










Hitler protegeu antigo companheiro de armas judeu.  Hitler perdeu meu respeito, praticando nepotismo? Esperava mais de alguém que achava que estava criando um império para durar mil anos. Essa é uma manchete tipicamente sensacionalista, mesmo que Hitler tenha protegido um judeu, ele matou milhões! Além disso, essa proteção nem foi muito eficiente; o companheiro acabou indo para um campo de concentração.









É necessário pensarmos por nós mesmos, esquecermos padrões passados de pais para filhos durante gerações, impregnado de preconceitos, e aceitar as pessoas com suas diferenças. Obrigado por ler meu blog! Boa noite.


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Você que está entediado neste fim de semana e curte um bom anime, ou ainda não curte, mas quer conhecer, dê uma olhada no blog do meu colega Sammy Martins, com resenhas e agora links para download de episódios:




Este blog já está no ar a duas semanas, então se você que está acompanhando tiver algum comentário, crítica construtiva e quiser mandar envie um email para: cabecatual@gmail.com

Bom fim de semana a todos! 





sexta-feira, 6 de julho de 2012

Quebrando o mito ao redor do boson de Higgs


Recentemente o LHC, maior acelerador de partículas do mundo localizado no CERN, divulgou ter encontrado evidências que possivelmente comprovam a existência do boson de Higgs. Esse partícula recebe o nome em homenagem a Peter Higgs que foi um dos cientistas a teorizar sua existência em 1964. O boson de Higgs juntamente com campo de Higgs explicam porque as outras partículas elementares têm massa. Elas conseguem essa massa através da constante interação com o campo. O boson é um tipo de partícula que permite que outras múltiplas partículas existam no mesmo estado e, segundo a teoria, o boson de Higgs não tem spin e nem carga elétrica.

Devido ao seu caráter único de dar características a outras partículas elementares, o boson de Higgs ficou conhecido como "partícula de Deus". Contudo, a sua descoberta levou a um excessivo apelo de que isso significaria um passo na prova de que Deus não existe. Vamos parar de falar um pouco de merda, ok? Até mesmo jornais "conceituados", como o BBC News, publicou uma manchete dizendo que essa descoberta faz a religião recuar. Essa descoberta mostra que o pensamento científico realmente traz respostas sobre o universo, mas nada além disso; de maneira nenhuma prova que Deus não existe ou aumenta a chance dele não existir.

Essa foi a descoberta da partícula de Higgs, curvas em um gráfico


















BBC sobre a partícula de Higgs






















Dentre outras bobagens relacionadas ao boson está em dizer que agora poderemos ser capazes de viajar em velocidade maior do que a luz. Por favor, vamos diminuir as expectativas muito. O que foi "descoberto" foram dados numéricos na tela de um computador, organizados em um gráfico colorido para serem mais apresentáveis. Essa partícula durou menos de um segundo e foi destruída, não vamos fazer as malas para passar as férias em Marte ainda, ok?





Essa partícula é sem dúvida um importante passo científico em ruma a uma teoria unificada da física, mas é preciso ter cautela para não falar asneiras. Nós não vamos agora acordar em um mundo de Star Trek, com teletransporte e viagens espaciais. E, principalmente aos ateus porque eu também sou um ateu, a descoberta do boson de Higgs só mostra que o método científico é muito mais eficiente do que a religião para explicar os fenômenos do universo, mas isso nós sabemos desde Copérnico, então não é nenhuma novidade. Com toda a certeza não adiciona nenhuma evidência a favor ou contra a existência de Deus.