Não sei se todos vocês lembram, porque a memória do brasileiro é muito curta mesmo, mas em 2009 o então deputado federal Sérgio Moraes soltou essa afirmação ao ser questionado por reportes: estou me lixando para a opinião pública.
E claro grandes fontes sempre defensoras da "opinião pública" - como a Rede Bobo, a Não Veja e outras - caíram em cima desse comentário como um ultraje, um insulto ao
eleitor. Vamos ver o que realmente é
essa "opinião
pública" ou também chamado de "povo" e com
isso tentar entender o que aconteceu com o sonho de democracia.
Durante muito tempo da história humana a grande maioria da população, vamos aqui chamá-la de "povo", foi liderada
pela minoria, que se dizia nesse direito por nascimento, vontade divina ou
ambos. Deixando de lado a aclamação
emocional de que foi um período
de repressão,
no qual déspotas
regiam autoritariamente reprimindo o povo, imagem esta criada com as revoluções burguesas, porque assim como os
humanistas do Renascimento passaram a ideia de que o período medieval foi uma Era das Trevas,
os revolucionários
iluministas passaram a ideia de que o período
do realismo foi uma era maligna. Tal sistema, aristocracia, na sua definição clássica "governo dos
virtuosos", foi defendida por vários
filósofos expoentes
como Aristoteles, Platão
e Maquiavel em sua obra O Príncipe definindo
os homens de virtú.
E antes que as pedras comecem a ser
atiradas sobre mim eu não
estou aqui defendendo o antigo regime com sua rígida estrutura social definida pelo
nascimento, mas vamos pensar o que acontece hoje, no mundo do
"politicamente correto". Se uma pessoa nasce em uma família mais rica ele terá sim uma vantagem sobre aquela que
nasceu em uma família
menos favorecida, receberá
melhor educação,
passará
menos adversidades. O mundo de hoje, pós
revoluções
populares, condena esse tipo de pessoa, como se fosse um crime e uma ofensa
nascer rico. É
já um senso comum que
todos são
igualmente capazes, mas vamos derrubar essa máscara porque não, elas não são. Fora todas as características geneticamente determinadas que
nos diferenciam bastante uns dos outros, as condições sob as quais você nasceu e vive restringem o que você é capaz de conquistar. Eu sei, é injusto, o mundo é injusto, a zebra mais lenta vira
comida do leão,
acostume-se com isso.
Os séculos XVIII e XIX foram marcados pela
insurreição
das revoluções
para acabar com os resquícios
da antiga ordem social. Tomemos o maior exemplo desse período, a Revolução Francesa. Nessa revolução "o povo" percebeu,
finalmente, que eles estavam em maior número
e que podiam sair às
ruas e quebrar as coisas se não
estivessem satisfeitos com seu governo. A burguesia percebeu outra coisa, que
tinha uma grande arma ali, se pudesse controlar aquela numerosa massa eles
poderiam fazer o que quisesse. E aquela enorme massa estava ansiosa por alguém para controlá-la, porque afinal, além de quebrar as coisas, eles não tinham a mínima ideia do que fazer depois. A
burguesia tinha um plano, fazer uma constituição, controlar as classes mais altas,
conquistar seus interesses e jogar as sobras para o povo para deixá-los felizes. Isso pode resumir todas
as revoluções,
como disse George Orwell no livro 1984, a
sociedade dividida em três
classes, a classe média
anseia por mais poder, une-se com a classe mais baixa, derruba a classe alta e
todos ficam felizes, até
que naturalmente as classes começam
a se diferenciar novamente e o ciclo recomeça.
Só pense nos movimentos aqui no Brasil
mesmo, os grandes nessas últimas
décadas, Diretas Já e impeachment de Collor. O país passou 21 anos sob governo
ditatorial, houve resistência
sim, mas a reunião
de milhões
de pessoas sob um mesmo interesse foi levada até lá, guiada, controlada; como também foram os caras pintada, sim, depois
de anos sem eleições
nosso primeiro presidente "democraticamente" eleito é tirado do cargo. Viva a democracia!
Hoje a democracia se tornou uma
ditadura da maioria, não
importa mais se sua ideia é
certa ou não,
basta você
ter a maioria do seu lado que ela se torna certa. Isso deriva do falso senso
comum de que 99% das pessoas não
pode estar errado. De fato eles podem estar errado, como muito comumente estão. Os pais fundadores da América nunca intencionaram entregar o
governo ao "povo" ao estabelecerem o modelo de democracia,
posteriormente instalado em outros países
como o Brasil. É
um sistema de democracia representativa, o chamado povo não está completamente inteirado sobre a
burocracia do governo para eles serem escravos dele em suas decisões. Essa foi até uma fala do ministro do Supremo
Tribunal Federal, Ayres Brito, durante a sessão de decisão se o sistema de cotas é inconstitucional; eles estudaram
para exercer aquela função,
trabalham com aquilo todos os dias, não
devem ser escravos da opinião
pública só porque a maioria acha que devia ser
assim. E além
disso, que opinião
pública é essa que devia ser ouvida? Os
extremistas conservadores de direita, usando como exemplos o Tea Party nos EUA - com seus membros
agindo como deficientes mentais vestidos de George Washington - e a base
ruralista e evangélica
do congresso brasileiro, ou os de esquerda, como aqueles do movimento de
Acampar em frente Wall Street? Na verdade nenhuma. A opinião pública que deve ser ouvida, na concepição atual, é a daquelas pesquisas que aparecem na
TV, editadas e manipuladas.
Então da próxima vez que for aplaudir junto com a
multidão
pense bastante sobre o que eles estão
aplaudindo, tenha opinião
própria. Ao invés de passar 3 anos e 364 dias
reclamando que políticos
não ligam para você, só roubam e desviam verbas, pense
naquele único
dia, no qual você
diz "vou apertar qualquer número
aqui, afinal político
é tudo igual".
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