Vamos novamente falar sobre religião e o Estado laico, algumas pessoas
nesse país,
infelizmente entre essas estão
muitos políticos,
não conseguem
entender esse simples conceito. A bola da vez está com os vereadores de Apucarana no
estado do Paraná.
Todos os 11 vereadores da cidade votaram a favor de uma lei para instituir a
reza do Pai-nosso nas escolas municipais, agora a lei será votada novamente e, se aprovada,
encaminhada para a sanção
do prefeito.
Autor do projeto de lei, vereador José Airton Araújo |
No texto Comer, rezar e nãopagar impostos eu mostrei como a nossa Constituição proíbe todas as esferas do governo
brasileiro de promover qualquer religião.
Agora o autor do projeto, o vereador José
Airton Araújo,
defende que o Pai-nosso é
uma religião
universal e que o cristianismo é
predominante na cidade. Primeiro, nem todos os cidadãos da cidade são cristãos, instituir que tal oração seja rezada em um espaço público, principalmente para crianças, estará submetendo essas pessoas não cristãs à vexação, diminuindo suas crenças perante à cristã. Segundo, como crianças não têm opiniões formadas, estão na verdade adquirindo conhecimento
a partir do contato com as pessoas e o mundo ao seu redor, o Estado estaria
pior do que promovendo o cristianismo, evangelizando as crianças. Essa técnica foi utilizada pelos padres jesuítas para converter os indígenas, começavam a evangelizar pelas crianças. Lembremos que isso foi uma das
causas da perda da cultura dos índios.
Isso realmente não importa. Mesmo que todos os cidadãos da cidade fossem cristãos, a constituição proíbe o governo de se misturar com a
religião
e, diferentemente do que alguns religiosos acreditam, a Constituição é a lei maior do nosso país e não a Bíblia. O que levou o vereador a propor
a lei é
a violência
e o desrespeito dos alunos, o aumento da criminalidade, ele defende que " é preciso que as pessoas se voltem
para Deus e isso deve ocorrer já
na infância".
A arrogância
de alguns religiosos de que só
pessoas que acreditam em Deus são
boas e decentes é
irritante. 92% dos brasileiros são
cristãos,
se esse raciocínio
tivesse o mínimo
de consistência
o Brasil não
devia ser uma das nações
mais seguras do mundo? E todos os Estados religiosos que estão imersos em guerras? Não estou dizendo que todos ateus são exímios exemplos de seres humanos a
serem seguidos, a verdade é pessoas cometem atos desprezíveis, simplesmente, porque são seres humanos, estão fadados a erros.
Alguns ainda são sensatos o suficiente para serem
contrários
a essa medida, como o monge Wagner Bronzeri, que percebe a diversidade
religiosa da cidade, e diz que os filhos de budistas podem se sentir
constrangidos durante a reza e serem, até
mesmo, discriminados. A chefe do Núcleo
Regional de Educação
de Apucarana, Maria Onide Sardinha, diz que, mesmo que a lei seja aprovada, ela
não será cumprida. Ela corretamente entende
que é mais importante
seguir as diretrizes pedagógicas
e a Constituição.
Em abril uma lei semelhante já
foi considerada inconstitucional pelo tribunal de justiça de Ilhéus, na Bahia.
Chegamos a um ponto que não se pode ser contrário a algo que esteja minimamente
relacionado a religião
sem se tornar um ateu, satanista, sem moral, e sem estar ofendendo a Deus e as
pessoas que acreditam nele, isso porque, como todos sabemos, religião não se discute. Se religiosos
mantivessem suas superstições
sem sentido dentro de suas casas, seus templos e suas mentes; se eles não se considerassem detentores de uma
moral superior às
das outras pessoas que não
compartilham dos seus delírios,
religião
não precisaria ser
discutida. A partir do momento que você
traz suas crenças
para dentro da câmara
dos vereadores e tenta enfiá-las
goela a baixo em crianças,
você não tem mais o direito de dizer que
discutir religião
é desrespeitar seu
direito a tê-la,
porque impor a sua religião
às outras pessoas é desrespeitar o direito delas.
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