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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Greves, protestos e crises na Europa

Governos dos países europeus têm adotado medidas de austeridade para tentar sanar a crise econômica que os assola. Essas medidas têm se mostrado extremamente impopulares e provocado protestos em vários desses países. Greves constantes marcam países como Portugal, Espanha e Grécia e uma greve geral nesses países está marcada para o dia 14 de novembro. Em resposta os governos mantêm as medidas impopulares e, no outro extremo, os mais ricos pagam cada vez menos impostos. Enquanto isso, áreas importantes, como educação e saúde, sofrem cortes para diminuir déficit.

Protesto em Portugal


A crise financeira assolou o mundo ao final de 2008, levou grandes bancos e empresas à falência ou perto dela. Esses grandes bancos foram correndo pedir para o governo salvá-los da falência e os governos ajudaram, os grandes responsáveis pela crise não sofreram quase nada com ela, no máximo voltaram ao patamar que estavam antes dela. No entanto, alguém teria que pagar pela crise e esse alguém foi a classe média e a classe baixa. Enquanto o governo passa medidas para aumentar impostos, reduzir salários, demitir funcionários públicos, os 1% mais ricos - chamados de "criadores de emprego" - pagam cada vez menos impostos e ganham cada vez mais.

As medidas de austeridade são uma exigência tanto do FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BCE (Banco Central Europeu), como requisito para os empréstimos que os países precisam para sanar o déficit. Um país assolado por dívidas tem suas políticas controladas por seus credores. Atenas, por exemplo, deverá apresentar um pacote de 13.5 bilhões de euros, para que mais uma parcela de 31 bilhões de euros, de um empréstimo de 130 bilhões, seja liberado. Enquanto isso, 25 mil manifestantes - segundo a polícia -  tomam as ruas gregas. Vítor Constâncio - vice-governador do Banco de Portugal e número dois do BCE - diz que essas manifestações não serão problema, já que a direita domina o governo em Portugal e Espanha.

No entanto, essas medidas de austeridade não irão solucionar o problema, irão, de fato, torná-lo pior. Na zona do euro o desemprego aproxima-se dos 11%; na Espanha o desemprego atinge assustadores 24,1% e no vizinho Portugal o desemprego é de 15,3%. Mas isso não é importante, não é? O que importa é que os investidores bilionários estejam bem, né? Afinal eles são os santificados "criadores de emprego". Mas em um país todos são responsáveis por pagar as dívidas e assumir as consequências da crise e não só os mais pobres. E o desenvolvimento de uma sociedade capitalista é medido pela capacidade da sua classe média de consumir, isso irá gerar lucros para os mais ricos que serão revertidos em investimentos e mais empregos. Se a classe média está assolada em impostos, como essa terá excedentes para gastar? Isenção de impostos para os mais ricos não estimula consumo e nem investimento na economia real, só estimula mais especulação que gera dinheiro só para os mais ricos.

A reforma tributária está também no centro de discussão na eleição presidencial nos Estados Unidos. O atual presidente, Barack Obama, defende que os mais ricos devam pagar até 30% mais impostos. Já o eleito presidente francês François Hollande apresentou um ousado plano de tributar em 75% todos os rendimentos acima de um milhão de euros. Até mesmo o primeiro-ministro tecnocrata da Itália, Mário Monti, instalado para seguir políticas de austeridade, admitiu que não dá para ter crescimento só aplicando essas medidas.

Essas mudanças na postura das lideranças mostra o efeito das manifestações populares sobre os políticos. Diferentemente do que pensa Constâncio, a insatisfação surte efeito nas decisões do governo sim, mesmo que não seja no próprio país dos manifestantes, mas nos vizinhos. A queda do governo de Sarkozy, defensor da austeridade, e a eleição do Hollande na França mostra isso. Outro exemplo da insatisfação popular com governos apoiadores dessas medidas é a pesquisa de opinião na eleição da Irlanda. O candidato Eamon Guilmore foi crucificado por seus discursos apocalípticos que a Irlanda não receberia ajuda se o plano fiscal não fosse seguido. A Alemanha de Angela Merkel é um ponto de resistência dos conservadores a favor das políticas impopulares. De alguma forma o efeito dos protestos não chegou ao país, talvez por ser a maior economia da Europa e o país mais competitivo de lá a população na tenha sentido os efeitos da crise tão forte quanto Espanha e Portugal, mas mesmo lá o desemprego atinge 7%, um nível bastante alto.

O déficit dos países europeus é preocupante e deve ser tomadas medidas para reduzi-lo, mas cortes em áreas como educação e saúde, como tomados por Portugal, é prejudicial a longo prazo. Não há como recuperar o crescente desemprego sem investimentos. Medidas que só protegem os mais ricos e coloca o peso da crise econômica sobre os ombros da classe média não irá recuperar a economia. Não são os 1% mais ricos os "santos criadores de empregos", como prega alguns políticos, e sim a classe média que mantém a economia. Uma classe média forte, com alto poder de consumo que estimula o desenvolvimento. Os países europeus têm que se ver livres do interesse do FMI e do BCE que diferem com o interesse de sua população e que, principalmente, são contrários ao desenvolvimento dos países. 

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Podcast O Nerd Diário, que eu faço parte. Escutem é muito bom e divertido. Esta semana episódio sobre como foi a nossa infância na década de 90.

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