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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A nova face do xenofobismo

Na última grande recessão econômica do mundo capitalista um homem ganhou prestígio político ao culpar a situação precária de seu país nos judeus. Acusou-os de roubar o dinheiro dos cidadãos e escondê-lo em uma caverna. Por mais ridícula que tal afirmação pareça, esse homem convenceu uma nação inteira e colocou em prática um dos maiores genocídios que a humanidade já conheceu.


O que este homem fez foi monstruoso, mas a ideologia que embasa estes atos não foi criada por ele e não desapareceu após a sua derrota. As teorias "científicas" e "filosóficas" que defendiam a superioridade da raça ariana era algo bem mais antigo. Foi usada como justificativa para a escravidão africana séculos antes e mesmo depois da abolição - que foi obtida mais porque tornou-se economicamente desvantajosa para o capitalismo do que porque as pessoas perceberam que era moralmente errada - a ideia não desapareceu. As pessoas nos campos de concentração conduzindo experiências eram comuns, como eu e você, e, mais do que isso, eram cientistas aplicando princípios científicos aceitos por séculos.

Os defensores de tais ideologias podem ser poucos e parecerem inofensivos, mas eles esperam o momento que essas ideias terão capacidade de convencer mais pessoas. E um desses momentos é o de crise econômica. As pessoas serão facilmente convencidas a colocar a culpa da sua situação em um motivo externo do que assumir responsabilidade. E é nesse cenário que tais ideias reaparecem agora na Europa. O desemprego atinge o nível de 25,4% na Grécia, o dobro da média da União Européia e quase 60% dos jovens com menos de 25 anos estão desempregados. Esse é o ambiente em que a ideologia do neonazismo germina. E já germinou. No texto Fim do Mundo eu falei como o partido Aurora Douradae conquistou 18 assentos no parlamento grego. Um partido que seu líder ataca fisicamente a adversária de outro partido e seus membros são acusados de perseguir imigrantes.

O imigrante é responsabilizado, pelos defensores dessa ideologia, pela crise econômica. A identificação de "quem é meu semelhante" tornou-se particularmente difícil na Europa na segunda metade do século XX. A quebra dos limites nacionais, com a introdução da União Européia, a globalização da economia, o aumento da imigração, o multiculturalismo, deixaram cinza a identidade nacional. Os europeus perderam sua referência diante da velocidade com que as mudanças ocorreram e caminham sem saber quem seguir. Decepcionados com a direita e a esquerda do seus países, constantemente atacadas pela mídia, buscam a explicação fácil. E o imigrante, e todos aqueles que não são vistos como igual à imagem refletida no espelho, tornam-se alvos fáceis, por representarem uma concorrência indesejável no mercado de trabalho.

Na França, famosa por sua "lei anti-véu" que proibiu as mulheres da religião muçulmana de usarem o véu em público, pode emergir um líder simpatizante com as ideologias neofascistas. A eleição para a liderança da UMP(União por um Movimento Popular) ocorreu a uma semana e não tinha sido decidida até o fim de semana. O Jean-François Copé havia sido declarado vencedor, mas seu oponente, François Fillon, não aceitou o resultado. Copé é mais simpatizante da Frente Nacional, legenda de extrema-direita, do que Sarkozy era. A Frente Nacional defende políticas como, a volta das mulheres ao lar e a expulsão de três milhões de estrangeiros. A Frente foi responsável pela expulsão em 2010 de 8601 ciganos romenos do país.

Essas práticas espalham-se por vários países europeus e poderíamos passar horas citando leis e ações de outras nações como a Dinamarca, Espanha, Alemanha, Holanda, Reino Unido e várias outras. Discriminação, principalmente contra muçulmanos. A Chanceler Angela Merkel, da Alemanha, advertiu os imigrantes: "Aquele que não aprender imediatamente o alemão, não será bem-vindo.". Entenda "aprender imediatamente o alemão" uma indicação de abandonar sua cultura e aceitar a cultura alemã. Essa declaração foi enfatizada pelo presidente do partido Democrata-cristão, Volker Bouffe: "O Islã não pertence à república." "O islamismo não responde às exigências de nossa Constituição, fundada sobre nossa tradição judaico-cristã", declarou também Volker Kauder, parlamentar do partido.

Pelo simples fato dos partidos que defendem essa ideologia ganharem cada vez mais espaço político percebe-se que eles não são nem um pouco impopulares. Na Áustria o partido FPÖ de extrema direita cresceu de 14,83% em 2005 para 27%. Na Grécia, em pesquisas, a legenda neofascista deve saltar de atuais 6,9% para 12,8%, nas próximas eleições. Mais de um terço dos alemães declararam que seu país estaria melhor sem os muçulmanos, 55% dizem que eles são desagradáveis e 58% que se deve proibir sua religião no país. Na França 55% dos católicos apoiam a expulsão dos muçulmanos. E isso reflete por vários outros países do continente.

Fora da Europa, nos Estados Unidos da América, a ala conservadora sofreu grande derrota. Candidatos à Casa dos Representantes que fizeram declarações machistas em relação a estupro, por exemplo, não conseguiram se eleger. O partido extremo conservador, Tea Party, também sofreu derrotas políticas. Isso fez alguns membros do Partido Republicano repensar sua política de imigração. Mesmo assim, há políticas como a construção de um muro na fronteira com o México e a lei do estado do Arizona que permitiria aos policiais suspeitarem mais de latinos nas suas investigações.

Relembrando as palavras de Abraham Lincoln:

"The founder of the Democratic Party declared that all men were created equal. His sucessor in the leadership has written "white" before men, making it read "all white men are created equal." Pray, will or may not the know-nothings, if they should get in power, add the word "protestant", making it read "all protestant white men"?"


Esses know-nothings(menos informados) chegaram ao poder. Eles são menos informados porque nós, como uma sociedade, esquecemos. No vídeo abaixo percebemos como as pessoas entrevistadas não fazem ideia de quem foi Hitler e o que foi o Holocausto.



Eu, pessoalmente, não acredito no combate às expressões de ódio silenciando o orador. Como disse o presidente norte-americano Barack Obama na reunião da ONU, "combate-se discursos de ódio permitindo mais discursos." É necessário que as pessoas que não são os know-nothings falem e mostrem quão ridículas essas ideias são.



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Pós-Guerra - Uma história da Europa desde 1945
Narrativa histórica, este é um relato sobre a Europa a partir da queda de Berlim, no final da Segunda Guerra Mundial. Abrangendo nações do leste e oeste, norte e sul, ele forma um magnífico panorama de sessenta anos, repleto de percepções. Tony Judt dedicou quase uma década de pesquisa e reflexão a esta história da Europa pós-1945. A obra apresenta o continente, de leste a oeste. Judt se baseou em pesquisas em seis idiomas para narrar a jornada de um continente após a devastação causada pela mais violenta guerra da História. Nenhum país, questão, indivíduo importante ou evento decisivo deixa de merecer o foco da narrativa, mas 'Pós-guerra' é o oposto de história arrastada.



2 comentários:

  1. Olá Igor
    Caramba! É assustador o que diz o texto! Muito assustador mesmo! Partindo da Europa, uma pais dito mais civilizado idéias tão ridículas sobre a presença dos estrangeiros no pais, raça ariana, xenofobia, políticos que agridem outros, que situação! Por que eles somente não admitem a responsabilidade da própria crise?
    Pois é. a democracia tende a livre expressão até dessas idéias canalhas, também não creio que censurando a voz desses grupos seja a solução, pois eles agiriam nas sombras do mesmo jeito
    As vezes falamos mal do Brasil, mas quando um candidato diz uma besteira sobre imigração ( que imigração? Estamos falando de Brasileiros! Não existe isso aqui ) ele é enxovalhado ( porém como vc disse muita gente aprova por debaixo dos panos )
    Mas esses movimentos agindo as claras e apoiado pela população européia assusta muito,,,
    abração!

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    1. Olá Marcos
      Sim é muito assustador como a história se repete e aprendemos nada, ou aprendemos pouco, com ela. Legal você citar o Brasil. O tema da redação da prova do ENEM desse ano foi justamente imigração para o Brasil. Estão vindo muitos, principalmente de áreas mais pobes e que sofrem com guerras e desastres naturais como o Haiti. Eu acredito que poderemos ser uma nação mais tolerante. Baseio-me no fato de não sermos uma nação com uma cultura de "a maior nação do mundo." e sermos um país de grande extensão marcado por várias diferenças culturais. Então, estaríamos mais propícios a conviver com as diferenças. É o que eu acredito.
      Abraços e obrigado pelo comentário.

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