Se você entrasse em coma na década de 70, presenciando um líder sindical chamado Luiz Inácio lutando por direitos do
trabalhador, e acordasse agora em 2012 e te mostrassem essa foto abaixo, você acharia isso inacreditável.
Nós que não entramos em coma achamos difícil de entender. O deputado Tiririca
diz que isso faz parte "do jogo". Devemos lembrar que este há dois anos não sabia o que um deputado federal
faz, agora ele deve ter uma ideia: pegue toda sua ideologia, tudo pelo que lutou
toda sua vida, todas as promessas que fez aos seus eleitores, e as joguem no
lixo se aliando com aquele que é
contrário
a tudo que você
defende.
Vamos recapitular um pouco da trajetória desses dois personagens para
tentar entender como chegaram a essa foto. Em 27 de outubro de 1945 nasce Luiz
Inácio da Silva, sétimo de oito filhos de um casal de
lavradores analfabetos que vivenciavam a fome e a miséria em uma das regiões mais pobres de Pernambuco. No
outro extremo, completamente oposto, temos Paulo Salim Maluf, nascido em 3 de
setembro de 1931, filho de imigrantes libaneses, uma família de industriais que decidiram
investir na América
do Sul no início
do século passado. Maluf
era neto de Miguel Estéfano,
uma das maiores fortunas de São
Paulo nas décadas
de 30 e 40. Recebeu boa educação
em colégio
de padres jesuítas.
Intrigante a atual aliança
dos dois, muito intrigante, bem continuemos na nossa viagem pelo tempo.
Lula muda para São Paulo em 1954, depois de ter mudado
para Guarujá
em 1952 junto com sua mãe
para viver com seu pai e sua segunda família.
Ele não
recebeu uma educação
já que seu pai,
analfabeto, acreditava que os filhos não
precisavam estudar e somente trabalhar. Então desde cedo Lula trabalhava, tanto
para ajudar seu pai quanto para se sustentar. E assim passou sua infância e adolescência. Em 1966 foi admitido nas indústrias Villares, uma grande empresa
metalúrgica
no ABC paulista.
Por outro lado Maluf teve uma formação completa. Graduou-se em engenharia
civil pela Escola Politécnica
da Universidade de São
Paulo, passando a ser diretor das empresas da família. De 1955 a 1967 trabalhou somente
como empresário.
Luiz Inácio em 1968 filia-se ao Sindicato de
Metalúrgicos
de São Bernardo do Campo
e Diadema e inicia sua trajetória
de sindicalista. Seu carisma e habilidade de liderar vão lhe dando destaque dentro dos
movimentos de lutas trabalhistas do período.
Liderou greves por reajustes salariais e participou de negociações pela classe junto ao governo.
Nesse espírito
surgiu, nos anos 80, a ideia de fundar o Partido dos Trabalhadores.
Ainda intrigado como alguém proveniente das classes mais
pobres, militante de lutas sociais, pode se aliar a Maluf? Não se preocupe, você não é o único.
Enquanto Lula engajava-se em lutas
trabalhistas, Paulo Maluf iniciava sua carreira política. Seu primeiro partido político foi o Arena, partido apoiador do
regime militar. Sim, enquanto um lutava contra a opressão do regime às classes trabalhadores o outro
aliava-se ao esse. Mas quem pode questionar que os resultados foram muito mais
favoráveis
à Maluf? Presidente
da Caixa Econômica
Federal de 67 a 69; prefeito de São
Paulo de 69 a 71; Secretário
dos Transportes de 71 a 75; governador de São Paulo de 75 a 82. Teve uma vida difícil e de muita luta para conquistar
as coisas esse Paulo Maluf.
Lula por seu lado foi preso em 1980 e
condenado a três
anos e meio por incitar à
desordem coletiva. Recorreu e foi absolvido 1 ano depois. Participou da eleições para o governo de São Paulo em 82 e perdeu. Em 1984
ingressou no movimento Diretas Já.
Enquanto um era favorecido pela ditadura o outro lutava para derrubá-la e restaurar a democracia.
Candidatou-se pela primeira vez a presidente em 1989 e perdeu no segundo turno
para Fernando Collor de Melo por causa de uma conspiração da Rede Esférica que editou o debate eleitoral
favorecendo Collor. Depois concorreu contra Fernando Henrique duas vezes (1994
e 1998), até
ser eleito em 2002 presidente da República
Federativa de Brasil.
Ainda sem ver similaridades na trajetória dessas duas figuras? Eu também não. Paulo Maluf tem uma carreira
marcada por acusações
de corrupção,
foi preso em 2005, é
procurado pela Interpol por um mandado expedido pela promotoria de New York. Não é o tipo de pessoa com quem você gostaria de tirar foto em sã consciência, muito menos apertando mãos e sorrindo.
Lula justifica a aliança com uma simples razão, aumentar o eleitorado. É como o empresário que deseja lucro a qualquer
custo. Esqueceram de avisá-lo
que, segundo pesquisa do Datafolha, 62% do eleitorado de São Paulo rejeitou essa aliança. Dentro do PT o índice de rejeição chega a 64%. Será que para conseguir eleitorado é preciso vender sua alma?
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