O Paraguai é um país conhecido pela facilidade de se
contrabandear produtos para fora de lá.
O paraíso
do produtos falsificados. Nada mais impressionante que ocorra lá um golpe tão falso quanto seus produtos. O que
aconteceu no Paraguai é
a tragédia
mais antiga da história
da humanidade, em que quem tem dinheiro e influência política consegue o que quer e os
pobres que lutam por mínimas
condições
de sobrevivência
são chamados de
criminosos e levam tiro da polícia.
Para entender é preciso conhecer alguns agentes
dessa trama, como a multinacional Monsanto, os grandes latifundiários, os grupos sem terra e os
membros do governo de Fernando Lugo.
O governo Lugo era um governo fraco, facilmente dominado pela extrema direita do país. Sofria duras criticas
da mídia, principalmente
do ABC Color, que, aliado dos grandes latifundiários e das multinacionais, criticava
a posição
do presidente contrária
à produção de um tipo de algodão transgênico. A conspiração podia ser vista dentro do próprio ministério do governo. Quando a SENAVE não liberou a semente, por falta do
parecer do Ministério
da Saúde
e da Secretaria do Meio Ambiente, como exige a legislação, o ministro da agricultura e pecuária, o liberal Enzo Cardoso, liberou
ilegalmente seu uso em 21 de outubro de 2011 e ainda fez duras criticas à Senave.
A multinacional Monsanto é a detentora da patente das sementes
de algodão
transgênicas.
Essa empresa faturou em 2001 30 milhões
de dólares livres de
impostos somente em royalties pelo uso das sementes. No Paraguai as
transnacionais do agronegócio
não pagam impostos e
nem os latifundiários.
Isso porque o congresso está
dominado pela direita. A Monsanto age através da UGP, União de Grêmios de Produção, e é ligada ao jornal ABC Color.
A desigualdade social no Paraguai é gritante. Praticamente 85% das
terras produtivas estão
nas mãos
de 2% da população,
usadas para produzir para o mercado externo ou para fins especulativos. O caso
mais recente de conflito por terra, e um dos fatores da saída de Lugo, ocorreu na fazenda
Morombi em Curuguaty. O dono dessa fazenda, de 70 mil hectares, é Blas Riquelme que enriqueceu durante
a ditadura de Stroessner (1954-1989) e depois se aliou ao general André Rodriguez, que deu um golpe de
estado em Stroessner. Uma pessoa com bastante experiência em se aliar a ditadores para dar
golpes. Valendo-se de seus vários
contatos políticos
e subterfúgios
legais, ele tomou posse de 2 mil hectares pertencentes ao Estado paraguaio.
Essa parcela de terras foi ocupada
por camponeses que exigiam sua distribuição.
Preste atenção
porque aqui é
difícil perceber quem é o ladrão. De um lado um rico latifundiário tomou posse de terras do Estado
de maneira corrupta para usá-la
para fins especulativos; de outro, um grupo de sem terras invadiu a propriedade
para que ela fosse distribuída
e usada para produzir alimentos para a população. Eu sei que é difícil ver o ladrão, mas leve o tempo que precisar para
pensar sobre isso.
Um juiz e uma promotora ordenaram o
despejo dos camponeses e o Grupo Especial de Operações, policiais treinados para combater
grupos altamente perigosos do narcotráfico,
foi mobilizado para executar a ordem. Agora o que aconteceu a seguir é o mais intrigante. Como um grupo
treinado sofreu uma emboscada de um grupo de agricultores sem terras e teve
seis policiais mortos? Dos agricultores 11 foram mortos e 50 feridos. A mídia explorou ao máximo os seis policias mortos para
criminalizar os ocupantes e gerar o ódio
público às organizações campesinas. E podem ficar
tranquilos porque isso nunca aconteceria aqui no Brasil, uma democracia de
verdade.
O governo, a justiça e a mídia estão todos casados com os grandes
capitalistas que querem manter a antiga ordem social na qual dinheiro fala mais do
que direitos. O caso Curuguaty serviu para derrubar ministros do governo Lugo e
colocar membros do partido Colorado, de direita, no seu lugar. O novo ministro da justiça,
Rubén Candia Amarilla,
conhecido por medidas contra os camponeses quando era procurador geral, como
primeira ação disse que não
haverá
mais diálogos
com os camponeses. Para que conversar, pessoas lutando por seus direitos
merecem é
mais pancada da polícia.
Direito de pobre é
ficar calado.
Lugo continuou no poder enquanto se
mostrava favorável.
Ele foi responsável
pela aprovação
da lei anti-terrorista, patrocinada pelos EUA, que permitiu a movimentação de tropas pelo território paraguaio, principalmente nas
proximidades da fronteira brasileira. Vimos no último artigo como os americanos estão aumentando sua presença militar na região. O massacre em Curuguaty também foi uma mensagem à região, principalmente ao Brasil, pela
proximidade com a nossa fronteira.
Contudo, a principal mensagem dessa
tragédia é a superioridade do poder do
dinheiro. Por todo o mundo lutas sociais estão insurgindo, mas enquanto o governo
e a justiça
estiverem controlados pelos grandes donos de capitais e a população passiva porque é manipulada pelos meios de comunicação tradicionais, esses acontecimentos
ainda serão
constantes.
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