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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Brasil está em greve

Lembro de um episódio de South Park, em que as pessoas do Canadá entraram em greve para chamar a atenção dos outros líderes mundiais que menosprezavam o país. Isso não funcionou muito bem, ninguém deu a mínima para a greve dos canadenses e eles deixados quase à beira da morte. No Brasil vários servidores de diversos setores federais estão atualmente em greve, como resultado das más políticas administrativas do governo atual.




A maior parte dos leitores deve estar sabendo da greve dos professores das universidades federais, mas eles não são os únicos funcionários públicos em greve no momento. Policiais Federais, servidores ligados ao Ministério da Agricultura, Receita Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são outros exemplos de órgãos federais com servidores em greve. A principal reivindicação dos grevista é revisão salarial. 




Os professores das universidades federais estão em greve desde maio e as negociações não estão levando a lugar nenhum. O MEC enviou uma proposta de aumento salarial de 15,8%, mas os professores exigem 22,8% e votaram pela manutenção da greve. O MEC por sua vez disse que as negociações acabaram e exige o retorno das aulas. Isso é negociação? Um propõe algo o outro recusa e o primeiro simplesmente diz, não vou negociar mais? Esse é um método administrativo introduzido na década de 60 baseado na ideia que os sociólogos da época tinham que as pessoas sempre odeiam seus trabalhos, então o papel do patrão é bater na mesa e exigir que o trabalho seja feito a qualquer custo. Essa ideia foi chamada de Teoria X e é a teoria administrativa correntemente aplicada pelo governo, o que é uma ironia devido à histórica luta trabalhista dos membros do partido em questão. No outro extremo da Teoria X existe a Teoria Y, que parte do princípio que as pessoas trabalhariam melhor se lhe fossem concedidas melhores condições de trabalho, conforto, tranquilidade e liberdade no serviço. Essa teoria é aplicada pelas empresas de tecnologia atuais como o Google e é um dos fatores do enorme sucesso delas. Eu sei, parece contra-intuitivo achar que as pessoas iriam gostar mais do trabalho se fossem tratadas melhores nele, afinal que ser humano gosta de ser tratado bem né? Gostamos é do chicote batendo nas nossas costas, enquanto o chefe grita "mais rápido, mais rápido".

A deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM/TO) fez um pronunciamento sensato e coerente sobre a questão, pelo menos um político está pensando. "É preciso agilidade e boa vontade. Os professores querem simplesmente voltar para suas salas de aula e pesquisas com os compromissos para a educação e planejamento em relação a várias questões que não se referem somente ao salário. Existem políticas públicas que podem ser negociadas e estabelecidas como modelo. Não podemos esperar que uma greve aconteça todo ano”, ela disse. Contudo é para isso que o governo tem trabalhado arduamente, para uma greve por ano. Como lembrou a deputada, este faz propostas que sequer chega a cumprir!

Eu comecei o texto citando um episódio do desenho South Park e como os dirigentes dos outros países não deram importância nenhuma para a greve do Canadá. A situação do Brasil não podia ser mais diferente do que essa. Os olhos do mundo estão de certa forma voltados para nós, principalmente porque os outros países antes chamados de Primeiro Mundo estão imersos em crise. A greve dos servidores ligados ao comércio exterior gera um prejuízo de 12 milhões de dólares por dia. Universidades com convênio de intercâmbio de alunos e cooperação em pesquisas também são prejudicadas. 

Particularmente sempre fui contrário à greves. Acredito no diálogo, na negociação, no bom-senso de ambas as partes. Quando chegamos ao ponto de parar os trabalhos é porque algo falhou nesse processo. Em uma democracia discute-se ideias e trabalha-se para chegar a um consenso, não se bate na mesa e exige-se as coisas. A adoção de práticas administrativas da década de 60, já demonstradas ineficientes, mostra o atraso brasileiro. 

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